quinta-feira, 11 de agosto de 2011

O Tempo Vivo da Memória

Neste livro de admirável sensibilidade humana, Ecléa Bosi explora o campo de experiência pessoal com os eventos do dia-a-dia, registrados na lembrança, contados para outrem. Não é a memória que se tranca em si mesma, mas a que partilha seus conteúdos quando há um ouvido disponível e atento, e que os define, no próprio ato de contar. Há uma história oficial, a dos manuais e das datas importantes que todos nós quando estudantes, e sob protesto, tivemos de decorar. À que se refere Ecléa é outra história, a de cada um, construída ao longo da vida, a partir de um cotidiano muitas vezes corriqueiro, mas sempre relevante.  A toda hora, somos capazes de recuperar aspectos de nosso passado: é como se nos contássemos histórias a nós mesmos, alguns chegam a registrá-las em forma de diário.  Mas o relato primordial é o que pode ser feito a outras pessoas: através dele, o que vivemos e que é bem nosso ganha uma dimensão social, obtém testemunhas (mesmo que a posteriori), faz com que os outros ampliem sua experiência, através das nossas palavras. Há troca e cumplicidade.  César Ades

Viver, para Contar (a vida), o título das memórias de Gabriel García Marquez, serve para todos nós. Viver algo notável gera a necessidade de contar: você sabe o que eu vi? Você sabe o que me aconteceu? E tudo o que nos acontece é notável porque nos concerne. É interessante notar que estudiosos supõem ter a linguagem se originado, em nossa espécie, a partir da representação de situações sociais; talvez se possa dizer, parafraseando García Márquez, que se nos lembramos é para poder contar.

Excelente!!!


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